Publicado em 15-Dez-2016 às 19:46
Três anos a apoiar a inovação em português
O mérito e a excelência do empreendedorismo na agricultura, agro-indústria, floresta e mar foram destacados pelo 3.º ano consecutivo no Prémio Empreendedorismo e Inovação, organizado pelo Crédito Agrícola em parceria com a INOVISA, e entregue dia 24 de Novembro de 2016, na Fundação Champalimaud, em Lisboa. Os projectos vencedores nas seis categorias receberam um prémio monetário no valor de 5.000 euros, e além do apoio à divulgação, quer através do vídeo promocional do projecto apresentado na cerimónia de entrega de prémios, quer através da comunicação social no Jornal de Negócios, os empreendedores terão ainda atribuição de condições preferenciais em linhas de financiamento, bem como outras condições em produtos e serviços financeiros do Crédito Agrícola.
As categorias a concurso foram as de Produção e Transformação; Comercialização e Internacionalização; Investigação e Desenvolvimento Tecnológico; Desenvolvimento Rural; Jovem Empresário Rural e a de Projecto de Elevado Potencial promovido por Associado do Crédito Agrícola.
O concurso concedeu também menções honrosas, no valor de 2.500 euros a quatro projectos, nas categorias Produção e Transformação; Comercialização e Internacionalização; Investigação e Desenvolvimento Tecnológico e Desenvolvimento Rural.
À frente na produção e transformação
Na categoria Produção e Transformação,o prémio foi entregue ao projecto Black Block. Promovido pela BBKW, o Black Block é um sistema solar híbrido para secagem agro-industrial de ervas aromáticas, fruta, cogumelos e cortiça, implementado por um algoritmo de cálculo com acesso e controlo por internet. O sistema assenta num software para automatização da secagem, optimizando o recurso à energia solar. Com acesso online aos parâmetros da secagem, este sistema permite ao produtor monitorizar e parametrizar a secagem, localmente, remotamente ou por uma app instalada num smartphone. A vertente ecológica do projecto é também digna de destaque, já que permite a redução de emissões de CO2 em 70% uma vez que utiliza preferencialmente (e automaticamente) energia solar para o processo de secagem do material vegetal, recorrendo a energia auxiliar apenas à noite e em condições atmosféricas adversas à secagem.
Gonçalo Costa Martins referiu que o seu projecto tem inúmeras vantagens, sendo a eficiência energética e o facto de os secadores não necessitarem de licenciamento algumas das mais visíveis. Com este prémio, o responsável admite que o objectivo de transpor fronteiras fica mais facilitado. “Estamos numa fase inicial e queremos ir para fora”, afirmou Gonçalo Costa Martins. A menção honrosa nesta categoria coube ao projecto “Azeite em Pó com Ervas Aromáticas”.
O azeite em pó com ervas aromáticas da empresa MC Rabaçal & Aragão, resulta da desidratação do azeite de Trás-os-Montes com maltodextrina de tapioca e adição de ervas aromáticas da região. Actualmente existem quatro tipos de azeite em pó que utilizam azeite e ervas selvagens da região transmontana – azeite com erva peixeira, azeite com alecrim, azeite com orégãos e azeite normal – ao acesso de chefes de alta gastronomia.
Artur Aragão avançou que o produto deverá chegar ao mercado na Páscoa de 2017 e acredita que este prémio é importante para dar visibilidade a uma região que, segundo ele, “quase não tem gente”. “É preciso fazermo-nos notar e é isso que fazemos todos os dias e todos os anos com a apresentação de projectos inovadores”, assumiu Artur Aragão.
Nesta categoria de Produção e Transformação foi ainda distinguido o projecto “Arges Ruris”. O Arges Ruris é uma aplicação móvel para o controlo remoto de explorações de produção extensiva de animais, desenvolvida pela empresa GlobalBit. Num regime extensivo, os animais vivem e alimentam-se tipicamente numa vasta área, condições de produção que dificultam o controlo, monitorização e vigilância da propriedade e dos animais. O sistema Arges Ruris vem automatizar estas actividades, controlando a alimentação e a hidratação, o controlo de acessos e a identificação, a pesagem dos animais e a detecção de intrusão. Desta forma, Artur Chambel disse ser mais rentável e prática a produção pecuária, nomeadamente do porco preto alentejano. Num sector em que o tempo e a mão-de-obra escasseiam, este prémio é “um incentivo para o nosso negócio continuar”, assumiu Artur Chambel.
O horizonte é o limite
Com as exportações da agricultura a crescerem, os empreendedores constroem os seus próprios caminhos competitivos alémfronteiras. Da categoria Comercialização e Internacionalização saiu vencedor o projecto “Lotes Reserva”, do Cantinho das Aromáticas. Desenvolvido em parceria com a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, este projecto consiste na colheita selectiva das partes terminais das espécies limonete, ervapríncipe, hortelã-vulgar e tomilholimão para infusões. Estes são os primeiros lotes reserva infusão do mundo.
A inovação reside na colheita selectiva das extremidades das plantas nos dias mais compridos do ano, em que a sua composição em óleos essenciais, açúcares e outros compostos é superior, associando-se o melhor método de extracção (infusão) para cada uma destas plantas. O projecto foca-se na experiência sensorial associada ao consumo de infusões e não nas propriedades terapêuticas das plantas, que muitas vezes suscitam dúvidas ao consumidor. Luís Alves assume que este projecto tem como grande objectivo criar uma cultura de consumo de infusões, a começar já em 2017, sob a inspiração de uma série de agricultores.
“Este prémio permite dar mais visibilidade ao que já fomos adquirindo e permite a empresas como a nossa destacarem os seus produtos”, destacou o responsável. A menção honrosa foi entregue à “Pôpa Art Projects” e ao seu conceito inovador de juntar arte e vinho. O Pôpa Art Projects nasceu na Quinta do Pôpa e garante uma nova perspectiva do mundo vínico, associando uma abordagem artística à produção de vinhos e à experimentação vínica. Este é um projecto que desafia produtores de vinho/enólogos e artistas/ ilustradores a recrear uma história ou um conceito numa garrafa de vinho. Tem por objectivo auto-educar o consumidor, oferecendo-lhe uma história e características de personagens que encontram facilmente nas notas de prova de cada vinho.
A ideia trazida pelo “Vinho da Água” foi também destacada nesta categoria de Comercialização e Internacionalização como ideia de elevado potencial. Desenvolvido pela Ervideira, o Vinho da Água é um vinho que estagia dentro de água – no Grande Lago de Alqueva – a 30 metros de profundidade durante oito meses. Este tipo de estágio, baseado no resultado dos vinhos resgatados de naufrágios, garante uma diferenciação de sabor e aromas, distinguindo-se dos demais vinhos existentes no mercado interno e externo. Duarte Leal da Costa, o responsável por este projecto, admitiu que este prémio vai ajudar a sustentar o projecto. Já com uma facturação líquida de 300 mil euros, Duarte Leal da Costa avança que os próximos passos serão incluir nesta ideia os vinhos brancos e os espumantes e dentro de dois anos tê-los no mercado”.
I&D traz novos produtos para o mercado
A Investigação e Desenvolvimento Tecnológico foi outra das categorias premiadas pelo Crédito Agrícola em parceria com a INOVISA. O projecto “BIOSUBSTRATPOT” foi o vencedor nesta área. Desenvolvido pela Horto da Cidade, o BIOSUBSTRATPOT é um meio de cultura/substrato de plantação 100% biodegradável que permite substituir a utilização de vasos plásticos na produção de plantas. Este substrato é produzido em formas geométricas e medidas adaptadas às operações de muda, evitando o “stress pósmuda”.
Reduzindo o consumo de água e fertilizantes, este substrato funcional promove o equilíbrio e a eficiência nutricional das plantas, assim como previne patogenias através dos biocidas naturais presentes na sua composição. Jorge Carvalho garantiu que em 2017 o produto estará no mercado e que o prémio dará um importante impulso a esse objectivo.
O projecto “CoolFarm” arrecadou a menção honrosa nesta categoria em que a investigação e o desenvolvimento tecnológico estão em evidência. Destacando a cada vez maior necessidade de eficiência de recursos, João Igor Monteiro referiu que com este prémio será possível “crescer, gerar mais valor e conhecimento que permitirão chegar mais além”. O CoolFarm é um software que controla de forma inteligente a água, o ar e a luz no interior de uma estufa.
Desenvolvido pela empresa CoolFarm em parceria com outras entidades, como a Universidade de Coimbra e o Instituto Superior de Agronomia, este software assenta no conceito de “cloud” e nos princípios de inteligência artificial e de “machine learning”. O software optimiza recursos naturais, mecânicos e humanos e, combinada com o sensor óptico CoolFarm Eye, a tecnologia permite analisar e avaliar a saúde das plantas, assim como integrar e analisar todos os dados da estufa e das plantas numa só interface, assumindo-se enquanto ferramenta de apoio à gestão do agricultor.
O reconhecimento foi também para o projecto “Torre de Fluxos de Carbono em Montado” de sobreiro, que com esta referência espera ver facilitada “a divulgação do projecto e a promoção do ecossistema de montado”, como referiu Filipe Costa e Silva. A Torre de Fluxos de Carbono em Montado de Sobreiro é um projecto do Instituto Superior de Agronomia que contou com a colaboração de outras entidades, tais como a Herdade da Machoqueira do Grou e a Corticeira Amorim.
Esta torre mede as trocas de CO2 e água entre o ecossistema terrestre e a atmosfera, avaliando o impacto do stress ambiental no montado de sobreiro, cujo declínio é já uma realidade. Esta degradação resulta da combinação de factores como as alterações climáticas, as pragas e as doenças e da má gestão do montado, sendo projectos como a Torre de Fluxos de Carbono fundamentais para garantir a monitorização de locais experimentais de longa duração, providenciando resultados com elevada discriminação temporal. Existem já redes mundiais de monitorização recorrendo a torres de fluxos, sendo que a do nosso país é a única em montado de sobreiro e uma das poucas na região mediterrânica.
A ligação com o mundo rural tem várias formas
Na categoria de DesenvolvimentoRural, o vencedor foi o projecto “Porta do Mezio”. João Manuel Esteves, presidente da Câmara de Arcos de Valdevez, agradeceu a distinção e enalteceu o papel do Crédito Agrícola enquanto “parceiro do desenvolvimento local e desta inovação colaborativa”, que envolve também a Associação Regional de Desenvolvimento do Alto Lima (ARDAL) e ainda outras entidades. Este projecto pretende promover e divulgar o Parque Nacional da Peneda Gerês, enquanto uma das principais atracções turísticas do país e uma infra-estrutura potenciadora de negócios dos operadores turísticos da região.
Com um centro de recepção, o projecto permite a organização de actividades e programas turísticos em colaboração com empresas deste sector, às quais é garantido um posto de venda em plena reserva ambiental. A equipa técnica da Porta do Mezio também é responsável por diversos projectos que promovem o desenvolvimento local nomeadamente ao nível da animação turística, restauração, alojamento e produtos locais.
Na área das florestas, o projecto “Firerisk” conquistou a menção honrosa da categoria. Firerisk é uma aplicação móvel para o cidadão que reúne numa plataforma colaborativa dados abertos de diferentes autoridades públicas sobre incêndios florestais, permitindo o acesso em tempo real do nível de risco de incêndio. Os seus utilizadores recebem avisos sobre incêndios florestais que deflagrem na proximidade do seu terreno, sobre as áreas a limpar para proteger os seus terrenos e sobre medidas preventivas e de actuação a adoptar.
Teresa Fonseca assumiu que este reconhecimento permitirá garantir uma boa certificação e permite chegar aos clientes-alvo no sector florestal. “Acreditamos que o Firerisk pode potenciar territórios resilientes através da informação”, sustentou a promotora do projecto. À Quinta da Fornalha coube o terceiro lugar na categoria Desenvolvimento Rural.
A Quinta da Fornalha é uma instalação de jovem agricultor no concelho de Castro Marim. Esta quinta tradicional algarvia de 30 hectares de pomares de variedades tradicionais adoptou uma estratégia de criação de valor e incorporação de mais-valias nas matérias-primas típicas do Algarve (figo seco, amêndoa, alfarroba, azeite) através da certificação biológica e transformação criativa dirigida aos mercados “premium” com a marca Quinta da Fornalha. Aliando uma gestão agrícola ecológica e regenerativa a uma gestão e aproveitamento inteligente de todos os recursos existentes na exploração, foi construído um conceito holístico da exploração que promoveu as áreas do ecoturismo e animação.
Rosa Dias traçou uma evolução para este projecto que passa pela continuidade da actividade e pela inovação no turismo e na eficiência energética através da instalação de painéis solares. “O nosso projecto é inovador e dinâmico”, afirmou a responsável. Por essa e outras razões arrecadaram também o prémio, no valor de 5.000 euros, na categoria de Jovem Empresário Rural. Na categoria Projecto de Elevado Potencial Promovido por Associado CA o grande vencedor foi o projecto vinícola da Ervideira, Vinho da Água. Carlos Courelas, presidente do conselho geral e de supervisão do Crédito Agrícola, encerrou em nome da instituição mais uma edição da atribuição de prémios num sector que considerou “fundamental para acrescentar valor e fazer crescer a economia portuguesa”.
O mesmo reforçou o compromisso do Crédito Agrícola com os agricultores pioneiros e com o sector da agricultura que tem potencial para superar os actuais 9% de peso que tem no PIB nacional.